Espaço INTEGRAR

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São Paulo, Sudeste, Brazil
Maria Amália Forte Banzato- Educadora, Psicóloga Social com especialização em coordenação de grupos operativos pelo Instituto Pichon Rivière, Autora de livros didáticos de Língua Portuguesa e Consultora pedagógica e educacional. Maria Leila Palma Pellegrinell - Educadora, Mestre em educação, Especialista em coordenação de grupos pelo Instituto Pichon Rivière, Consultora pedagógca e educacional e Professora universitária.

INSCRIÇÕES ABERTAS PARA OS CURSOS.




VENHA PARTICIPAR!!!


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"PRODUÇÃO REALIZADA PELOS EDUCADORES DO COLÉGIO SÃO FRANCISCO NO DIA 26/01/10"

                                           "As expressões revelam a satisfação do grupo"

"O respeito à individualidade deu espaço à construção da grupalidade"

"Da individualidade à grupalidade"


A equipe do Colégio São Francisco de Assis se destacou no curso-consultoria pela afetividade e disponibilidade para o novo. Pensar a indisciplina como sintoma da dinâmica grupal possibilitou ao grupo rever conceitos, romper alguns paradigmas, revisitar a prática em diálogo com os diversos conceitos apresentados com base na Psicologia Social Pichoniana.

Refletir, revisitar,discutir, planejar e registrar foram estratégias fundamentais para a construção da equipe docente num movimento contínuo de avanços e de mudanças para TRANSFORMAR!

Conviver com esse grupo durante um semestre foi um grande prazer além de vislumbrar educadores apaixonados, autênticos e compromissados.

Parabéns à direção da escola e a toda equipe!




"FORMAÇÃO DE GRUPOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES"

Este grupo de adolescentes fez uma produção através do corpo.

Grupo de crianças e adolescentes.

“Amor, raiva, alegria, tristeza, medo... o que faço com o que estou sentindo?”

São muitos os sentimentos que afloram nas crianças e adolescentes... amor, alegria, raiva, tristeza, medo, coragem vergonha... e nem sempre elas sabem como expressá-los no dia-a-dia.
Como reconhecê-los? Como expressá-los? A circulação dos afetos na vida possibilita desenvolver a capacidade do autoconhecimento, do conhecimento do outro, gerando uma relação de respeito mútuo e de corresponsabilidade para transformar a realidade que estão inseridos.
É necessário criar um espaço onde os sentimentos possam ser ouvidos, entendidos, integrados e compartilhados entre os membros de um grupo. Desse modo, teremos a possibilidade de vislumbrar indivíduos mais equilibrados, capazes de lidar com as emoções, de resolver problemas e de pertencer ao grupo como agentes de seu próprio processo.
A proposta é uma vivência em grupo que tem por objetivo potencializar as crianças na tomada de consciência de suas capacidades e dificuldades integrando os afetos.
A metodologia utilizada é abordar esses sentimentos através da arte, de histórias, músicas, argila e também a técnica de grupo operativo.
O trabalho prevê encontros semanais com as crianças e adolescentes e devolutivas mensais com os pais. Será formado um grupo para crianças de 7 a 10 anos nos períodos da manhã e tarde e um grupo para adolescentes de 11 a 16 anos.


Início em março- Maiores informações pelo e-mail ou fone.

Grupo de crianças e adolescentes.


"Formando leitores, produtores e revisores de texto."

O objetivo desse projeto é formar leitores e produtores de texto. Como viabilizar isso na prática?? Que estratégias devem ser lançadas para alcançar tal objetivo?
A Língua Portuguesa tem como objetivo utilizar a linguagem na produção de textos orais, valorizando a leitura e a escuta, e a produção de textos escritos de modo a atender as demandas sociais.
Trabalhar a diversidade textual dos gêneros do discurso pressupõe pensar em diferentes situações comunicativas a partir de práticas sociais, análises e reflexões sobre o texto, levando o aluno a pensar criticamente e conscientemente sobre o objeto de estudo que é a língua materna.
A formação desse grupo visa instrumentalizar os alunos o desenvolvimento de diferentes estratégias de leitura e a formação de leitores e escritos autônomos, críticos e reflexivos.

Serão formado grupos às terças-feiras à tarde. Início em março

"Produção das crianças no projeto dos afetos e desafetos"


TRISTEZA

AMOR
TRISTEZA




"A circulação dos afetos e o desenvolvimento da aprendizagem"

Maria Amália Forte Banzato



Sou educadora há mais de vinte anos e essa experiência foi fundamental para que eu pudesse me compreender e também compreender meus alunos, meus filhos e as pessoas a minha volta.
Inquieta por natureza, a paixão pela sala de aula me levou a questionar a minha prática e também a questionar novos caminhos e respostas para as minhas dúvidas e inquietações.
Algumas questões me acompanharam durante algum tempo: Qual é, de fato, o papel da escola? O que acontece quando os alunos se reúnem em grupo?Os sentimentos e afetos interferem no processo de aprendizagem?
Qual é a razão de tanta violência nas famílias e nas escolas?Como ensinar os alunos a se relacionarem e a manifestarem seus afetos e emoções? Há espaço na escola para esse tipo de trabalho ou a preocupação está mais voltada para a informação?
Nesta minha jornada descobri que muitas das causas de dores e infelicidades estavam na distância que vamos tomando de nós mesmos em prol de um cotidiano e das exigências a que nos submetemos em nosso dia-a-dia.
Esquecemos de ser, de sentir, de sonhar, de realizar; esquecemos de perguntar para nós mesmos o que queremos e em que acreditamos. Vamos vivendo. Aceitando os desafios da vida.
Amor, alegria, raiva, tristeza, coragem, medo, vergonha, confusão, potência, impotência, paixão... Tudo isso acontece dentro da gente!
E o que fazemos com esse turbilhão de sentimentos e emoções que nos acompanham em nosso dia-a-dia? Como lidar com eles? O que devemos fazer quando sentimos raiva, tristeza e amargura? E quando sentimos alegria, amor e coragem?
Passamos a maior parte do tempo camuflando nossos sentimentos porque não nos parece correto falar sobre eles. Não fomos ensinados a lidar com nossos sentimentos e emoções. Ensinaram-nos o que é certo e errado, o que podemos e o que devemos fazer, mas e nossas emoções, o que fazemos com elas?
Passamos a vida negando as nossas emoções e não nos damos conta que isso vai nos retalhando, vai nos trazendo dores e tristezas, nos tornando um vulcão a ponto de explodir a qualquer momento. Vamos nos afastamos de nós mesmos e das pessoas; tornamo-nos mais irritáveis e violentos.
Falar dos nossos sentimentos e emoções ainda é um tabu e muitas vezes nos negamos a fazer isso em prol do profissionalismo, das funções que exercemos, e da nossa própria rotina.
Como educadora, tenho percebido essa dificuldade por parte de educadores, pais e educandos. Pensar conteúdos relacionais ou ensinar a lidar com afetos ainda é algo que nos assusta, que parece não fazer parte do universo da educação. Mas afinal, como podemos ensinar algo que não fomos ensinados? Acredito que o problema está exatamente aí; é aí que mora o nosso grande desafio. Será que não é chegado o momento de fazer uma reflexão coletiva sobre essa violência que nos acomete a todos. A violência é cenário nas escolas, nas famílias e na sociedade. A agressividade permeia a relação dos alunos entre si, dos alunos com os professores e também com seus pares. A indisciplina gerada pelos grupos é um grito surdo de socorro. Há pouca tolerância para lidar com as diferenças e os afetos. Quanto cada um de nós está implicado nesta questão e também é responsável por esses fatos? Responsabilizar o governo, a economia e tantos outros órgãos é tarefa fácil que nos libera da responsabilidade enquanto cidadãos.
É possível pensar soluções e buscar saídas para tal problema? O que cabe a cada um de nós? Minha experiência como educadora e coordenadora pichoniana, mobilizada pelas questões das relações e dos afetos em sala de aula, me dão a certeza de que nos educadores/pais podemos juntos buscar saídas para essa questão. Como? Criando um espaço onde os afetos e desafetos possam ser compartilhados, discutidos e modificados.
Parece-me que a violência é resultado de emoções reprimidas e negadas durante todo o processo de ser e estar no mundo. Não podemos nos esquecer que somos seres sociais constituímo-nos e reconhecemo-nos na relação com o outro. O outro nos convida a revelar valores e conhecimentos, mobiliza sentimentos e afetos, possibilita repensar, revisar e transformar a partir das relações e das tarefas que realizamos coletivamente.
Penso que, se integramos nossos sentimentos e emoções em nossas vidas, se criarmos um espaço em sala de aula onde os afetos possam ser compartilhados, entendidos e discutidos, estaremos oportunizando nossos alunos a lidarem com suas emoções. Teremos a possibilidade de vislumbrar indivíduos emocionalmente mais equilibrados, capazes de lidar com as emoções, de resolver problemas e de pertencer ao grupo como agentes de seu próprio processo.
A Circulação dos afetos na vida e em sala de aula possibilita desenvolver a capacidade do autoconhecimento, do conhecimento do outro, gerando uma relação de respeito mútuo e de corresponsabilidade para transformar a realidade em que estamos inseridos.
Para que isso seja uma experiência de sucesso, precisamos nos disponibilizar como indivíduos e educadores a uma reflexão individual e coletiva sobre esses aspectos e também nos exercitarmos nessa tarefa que não nos ensinaram.
Em 1989, a partir da vivencia em sala de aula no ensino Fundamental, criei um projeto que intitulei “A Circulação dos afetos e o desenvolvimento da aprendizagem” o mesmo teve por objetivo despertar a potência dos alunos, resgatar sua chama como indivíduos, sua dignidade e ideal. Mais do que informar acredito que tanto a escola quanto a família e a sociedade tem a obrigação de possibilitar sua formação enquanto indivíduos que pensam, choram, se alegram e se entristecem.
É necessário criar um espaço onde os sentimentos possam ser ouvidos, entendidos, integrados e compartilhados entre os membros do grupo. Um espaço onde os alunos possam reconhecer suas potências e dificuldades.
A circulação dos afetos no grupo contribui para o desenvolvimento da aprendizagem de maneira significativa, pois possibilita que os alunos tomem consciência do seu processo podendo SER, PERTENCER E ATUAR como protagonistas da sua própria história e do seu processo de aprendizagem.
Foram mais de quinze anos desenvolvendo esse projeto em sala de aula e pude durante esses anos aprimorar a minha prática através de teorias e estudos realizados. Muitos foram os autores e concepções que contribuíram para esse trabalho. Mas quero ressaltar um que, em especial- Pichon Rivière- me confirmou naquilo que acredito, e me deu ferramentas e a compreensão das dinâmicas grupais. Com a luz da psicologia social pichoniana foi possível compreender melhor o papel e a função do educador e também enriquecer minhas intervenções a partir do conhecimento adquirido sobre o espaço psicossocial do grupo e seus integrantes.
Os conteúdos novos apresentados em sala de aula mobilizam pensamentos e sentimentos nos alunos, é um momento de ansiedades e medos que precisam ser reconhecidos, tratados e compartilhados para que a aprendizagem aconteça. É necessário propor aos alunos a tomada de consciência desse processo para que possam reeditar, transformar e significar a nova aprendizagem.

O conceito de grupo e suas implicações no ato de aprender.

Qual é o papel do grupo no processo de ensino-aprendizagem? Será que a tarefa é clara para os educadores e educandos? O grupo de alunos em sala de aula é convidado para compartilhar os projetos, as metas, os conteúdos, os problemas, as aflições e as conquistas? Há espaço para a construção de um grupo e de uma tarefa compartilhada? Como garantir a individualidade do aluno e promover a identidade grupal? Como lidar com as diferenças? E o educador, qual é o seu papel? Quem é ele neste grupo?
Antes de tudo o educador deve ter clareza da sua função, de sua tarefa e do papel que desempenha no grupo. O educador não é o amigo, não é a mãe e nem o colega de classe. Ele deve ter uma relação assimétrica com seus alunos, pois sua tarefa no grupo é diferente de seus integrantes. O educador promove o processo de ensino-aprendizagem, que ele tem como tarefa promover a operatividade do grupo e o protagonismo de seus integrantes. Para isso ele precisa conhecer quais são as leis que regem o grupo.
Para Pichon Rivière, “grupo é um conjunto restrito de pessoas que, ligadas por constantes de tempo e espaço e articuladas por sua mútua representação interna, se propõe de forma explicita e implícita a uma tarefa, que constitui sua finalidade, interagindo através de complexos mecanismos de assunção e atribuição de papéis.”
Para Pichon, há dois organizadores do grupo: TAREFA e VÍNCULO.
A tarefa é o fazer conjunto, é a operatividade grupal, porém a realização de uma tarefa mobiliza sempre pensamentos e sentimentos que precisam ser compartilhados, explorados, discutidos e entendidos por seus integrantes para a produção grupal.
O vínculo é uma estrutura complexa de relações interpessoais, numa representação que implica em uma vivência externa e também em uma construção interna a partir da ação conjunta que envolve comunicação e aprendizagem. Na construção grupal o vínculo se estabelece em torno de uma tarefa e as diferenças são um cenário fértil para a aprendizagem. A eficiência dessa construção depende da clareza, da comunicação e dos vínculos em torno do ato de aprender ou da tarefa grupal.

Conclusão

A circulação dos afetos na vida e na escola possibilita uma relação mais honesta e verdadeira entre seus membros. Exige um investimento pessoal e grupal e também a presença constante de um educador que observa, sente, se arrisca, encaminha, ouve, pensa, reflete e compartilha os passos do grupo promovendo uma comunicação clara e fluída, cuidando das relações interpessoais e do vínculo estabelecido entre seus integrantes.
Educadores e educandos precisam ser parceiros eficientes, criativos e audaciosos. A construção do grupo necessita de um espaço para as competências, as facilidades, dificuldades, as dores, as alegrias, as conquista, os afetos e desafetos, as diferenças, os medos...
É um constante investimento, é um aprender a SER, a PENSAR, a SENTIR e a AGIR com o outro.

Artigo escrito para a revista GRUPO- edição especial de aniversário do Instituto Pichon Rivière- 2005

"Nosso percurso"


Maria Leila Palma Pellegrinelli

MEU PERCURSO PROFISSIONAL



Meu gosto, interesse e compromisso com a educação começaram muito cedo. Antes de completar 28 anos eu já havia dado aula para alunos da educação infantil, do ensino fundamental I e II e do ensino médio. Percurso que me possibilitou um olhar abrangente para o ensino e para a Educação.
Na década de 70 a grande maioria das escolas em São Paulo tinha uma concepção tradicionalista de ensino. Nascia, paralelamente, em alguns setores da sociedade o desejo de uma educação que fosse além dos limites do conservadorismo, da ordem imposta, do formalismo e do conteudismo. Tal necessidade possibilitou o surgimento de escolas com novas propostas. Denominadas escolas alternativas em sua maioria sustentavam uma concepção ativa de aprendizagem, o compromisso com o desenvolvimento integral do aluno (físico-motor, mental, emocional e social) e o respeito ao seu ritmo de desenvolvimento e estilo de aprendizagem. O trabalho com projetos promovendo a integração dos conteúdos de diferentes áreas do conhecimento e a aprendizagem significativa, a sala de aula compreendida como espaço de relacionamento e de convivência e uma nova qualidade na parceria escola e família.
A partir desses pressupostos em 1977 fundei com outras quatro educadoras a Escola Carandá. Uma rica, feliz e inesquecível experiência, marcada pela ousadia, convicção e confiança de um grupo especial de pais e educadores. Em doze anos, com 900 alunos, a escola já tinha a sua proposta consolidada. Permaneci na direção pedagógica até 1989.
Uma questão me inquietava ao longo desse percurso e motivava as minhas leituras, estudos e cursos. Qual é, de fato, o papel do educador? Quais são os limites e as possibilidades da sua atuação a frente da sala de aula e na vida dos alunos? Em minha vivência percebia que a vida brotava na sala de aula em todo o seu colorido e exuberância, e também em suas facetas doloridas e frustrantes expressas no rosto e no comportamento dos alunos. Histórias de vida de cada um. Assim, percebia que não era possível distinguir completamente onde o sistema familiar terminava e o sistema escolar começava. E a minha inquietação aumentava à medida que sabia que nós, os educadores, não tínhamos formação e conhecimento nesse campo quando a vida “entra” na sala de aula em todas as suas múltiplas facetas. Eu me perguntava sobre os nossos limites, pois era fácil “cair na tentação” de estabelecer um vínculo de amizade com os alunos ou, arrogantemente, tentar ocupar o lugar dos pais. Em certa medida, o esforço para romper com a distância e, às vezes, com a impessoalidade vigente na relação professor-aluno nos tirava do nosso lugar. Intuía que o professor somente pode educar e fortalecer o aluno do lugar que lhe pertence, que certamente não era o de psicólogo, pai/mãe, ou amigo. Qual lugar era esse claramente?
Ingressei no mestrado, posteriormente no doutorado, com esse propósito. Aprofundei os meus estudos na área da Pedagogia, da Psicologia e da Filosofia enquanto, paralelamente, atuei como professora convidada pelo Prisma - Centro de Estudos do Colégio Santa Maria, ministrando cursos para professores e para coordenadores pedagógicos durante dez anos. Atuei como professora-capacitadora, no âmbito das lideranças, do Programa de Educação Continuada (PEC), pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP, na capital e nas regiões de Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato e Mairiporã. Pela Universidade Estadual Paulista/UNESP, fui co-autora e docente do projeto intitulado: Vivência Criativa: uma abordagem voltada para o desenvolvimento da inteligência cognitiva e emocional, em parceria com a Profª Dra. Eunice Vaz Yoshiura, para professores-coordenadores pertencentes à 16ª DEE da capital.
Iniciei minha atividade como professora universitária em 1999, como professora-convidada pelo Instituto de Artes/UNESP, como docente da disciplina Pesquisa nas Ciências e nas Artes: Criação e Pesquisa, no Curso de Especialização em Artes (Pós-Graduação Latu Sensu), em Presidente Epitácio, SP.
No mesmo ano fui contratada pela Faculdade Oswaldo Cruz/SP para assumir as disciplinas Propostas Curriculares Nacionais e Questões Didáticas, e Escola como Organização Social, no Curso de Licenciatura em Matemática e Química.
Atualmente sou professora no curso de Licenciatura em Pedagogia da Faculdade Sumaré/SP, assumindo as disciplinas de Didática, Prática de Ensino e Educação Infantil. Através desta Instituição participo como professora-orientadora do Projeto BEPA, uma parceria da Secretaria Estadual da Educação com as faculdades, orientando alunos-pesquisadores que atuam como auxiliares no primeiro ano do Ensino Fundamental da rede estadual de ensino de São Paulo.
Minha inquietação e busca anterior permanecia intensa e agora ampliada pela vivência com alunos universitários e, através dos cursos, com um número maior de profissionais da Educação. Antes eu me perguntava sobre os limites da atuação pedagógica do professor e sobre a sua formação para orientar e se posicionar frente às questões da vida – afetos, relacionamentos, histórias familiares - que vêm com eles para a sala de aula, facilitando ou retardando a sua aprendizagem conceitual, atitudinal e relacional. Agora eu já não tinha dúvidas sobre a importância dessa questão para mim, pois ela também se evidenciava nas salas de aula com alunos adultos. Refiro-me à influência da dinâmica da sala de aula na produção e/ou no relacionamento de alguns alunos, como exemplo. Outra evidência era o constrangimento dos alunos universitários quando era proposto que se organizassem em círculo para a aula, pois esta configuração fazia com que se sentissem “expostos”. Ou, as inúmeras vezes nas quais o tema da aula precisou ser relacionamento interpessoal, para que compreendessem o que acontecia entre eles na sala e que estancava o processo de aprendizagem. Ou ainda, os vários momentos nos quais era procurada por um aluno que tinha necessidade de expor seu problema pessoal, e percebia que ele apenas queria ser ouvido, como se disso dependesse a sua disponibilidade interna para aprender.
Em 1997 conheci a Psicologia Social e mais aprofundadamente a Psicologia Social de Henrique Pichon-Rivière, o teórico do Vínculo. Foram duas as minhas surpresas. A primeira foi o total desconhecimento, sendo pedagoga, de uma área do conhecimento que estuda o sujeito como ser de relação e em relação contínua consigo, com os outros e com o mundo. A segunda foi a constatação do quanto ainda hoje a Pedagogia aborda e se direciona para o indivíduo isolado, como se não fôssemos gregários, interdependentes e frutos do contexto social (restrito e amplo) no qual nascemos. É na relação com os outros que aprendemos quem somos e quem eles são. O outro, portanto, evidencia uma diferenciação e uma complementaridade. “Compreensões” que fazem parte do discurso da Pedagogia, mas ainda bastante distantes da prática. Basta olharmos para a arquitetura da sala de aula, a disposição das carteiras, os planos de aula, as medidas de caráter punitivo presentes em muitas escolas, o mito da homogeneidade tão sonhada por muitos professores. Nesse sentido, não é de todo estranho eu ter encontrado fora da Pedagogia algumas das respostas às minhas inquietações. Surpresa, mas feliz, eu havia encontrado uma sustentação teórica para as minhas percepções e sentimentos em relação à aprendizagem, à sala de aula, à função do professor e da escola. Principalmente, havia compreendido que a minha busca dizia respeito à natureza do vínculo professor-aluno.
Integrei o novo conhecimento à minha prática, ou melhor, o novo conhecimento possibilitou a integração interna de toda a minha experiência, gerando mais potência e confirmando a minha direção. Acredito que a minha formação acadêmica associada às experiências no universo das Artes e da Linguagem Corporal e ao meu aprofundamento no campo dos relacionamentos humanos se complementaram e foram fundamentais para o meu posicionamento atual na Educação. A integração da Pedagogia à Psicologia Social é uma das chaves para a visão da sala de aula como espaço de desenvolvimento de individualidades, de aprendizagem da convivência e de apropriação conjunta do conhecimento. É espaço grupal e como tal precisa ser vista e interpretada para que os vínculos se fortaleçam em torno do ato de aprender, que é função própria da escola, onde os alunos são os atores principais e o professor é o propulsor e o gerenciador desse processo.
Nos últimos anos fiz palestras em várias escolas, apresentei trabalhos em congressos e venho desenvolvendo o trabalho de assessoria educacional/organizacional em escolas que buscam a integração da equipe de profissionais em um propósito comum e o fortalecimento de suas lideranças em benefício do espaço sagrado da sala de aula. Também estou desenvolvendo uma pesquisa em uma nova linha educacional, a Pedagogia Sistêmica, abordagem que tem experiências consolidadas de sucesso na Espanha, Alemanha e México. No Brasil o trabalho é ainda desconhecido, embora já tenhamos algumas pontuais experiências exitosas.
O espaço SER E INTEGRAR, em parceria com a Maria Amália, é a concretização de um sonho. Ao longo do nosso percurso estivemos juntas em vários momentos profissionais em atividades que resultaram em trabalhos criativos, diferenciados e prazerosos. Representa a consolidação da nossa experiência e a união de esforços para a efetivação de um projeto direcionado para o educador, mas em benefício do aluno que é a razão principal do nosso trabalho e da nossa paixão pela Educação.


PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA

1. Dissertação de Mestrado defendida na PUC/SP em 1994 com o título: O Educador Contemporâneo e Seu Horizonte de Possibilidades para o 3º Milênio.


2. Revista de Educação AEC. Paixão e Educação – v. 28, nº 110, jan/mar 1999. – Brasília: AEC,1999. Título do artigo: Ensinar a gostar da vida: o compromisso em educação, pág 88.


3. Criatividade – uma busca interdisciplinar. Organização: João J. Spinelli e outros. São Paulo: UNESP/Instituto de Artes, 1999. Título do artigo: Criatividade em Educação, pág. 64.


4. Revista de Educação AEC. Educação: Crise e Sentido – v. 30, nº 118, jan/mar 2001. – Brasília: AEC, 2001. Título do artigo: A Crise dos Valores na Educação, pág. 67.


5. Revista GRUPPO. Edição ANO 2000 – Instituto Pichon-Rivière, SP. Título do artigo: Ser ou não ser diferente.


6. Revista GRUPPO. Edição Comemorativa de Aniversário, 2006 – Instituto Pichon-Rivière, SP. Título do artigo: Uma mudança de Foco.
                                  Maria Amália Forte Banzato

                                    MINHA TRAJETÓRIA.

 Iniciei a minha vida no magistério aos quinze anos como berçarista numa pequena escola infantil na cidade de São Paulo. Era responsável por quinze bebês por quem me apaixonei logo no primeiro encontro.


Minha função, na verdade, era “cuidadora”. Dava banho, trocava fralda e brincava.
Em 1989 ingressei numa renomada escola particular de São Paulo para trabalhar com o Fundamental, fui professora- auxiliar de 3ª e 4ª série e tive a benção de ter como parceira a professora Norma que denominei como a minha primeira grande mestra. Mulher vivida, com anos de experiência, de grande competência e uma energia e paixão contagiante. No espaço da sala de aula eu fui ensinante e também aprendente. A Norma me incluía em tudo e me dava oportunidade para criar e atuar. Passava finais de semana na casa dela aprendendo a fazer planejamento e relatórios. Ela me ensinou que conhecimento nos dá respaldo para o nosso fazer, porém ele deve caminhar junto com a paixão de ensinar. Sou grata a essa professora querida que abriu a janela da vida e da educação para mim.
No ano seguinte a diretora me convidou a ser a professora titular de uma segunda série. Eu tinha vinte anos! Foi um misto de alegria, medo, ansiedade e muita vontade de fazer o melhor. Passei as férias estudando e sonhando com meus futuros alunos. Às vezes o medo me dominava e eu pensava “Será que os pais não vão me achar muito nova? É melhor não falar minha idade.”
No primeiro dia de aula eu recebi meus alunos com muita ansiedade. Tinha diante de mim vinte olhos brilhantes sob a minha responsabilidade. Responsabilidade essa que me dava muita vontade de aprender e aprender cada vez mais.
Como sempre fui muito tímida e calada, descobri com esses pequenos, quem eu era e quem podia SER. Aprendi a conviver com minhas emoções e foi nessa época que despertei para a necessidade e desejo de tratar dos sentimentos na sala de aula. Era uma necessidade minha ou do grupo? Em principio era uma necessidade minha porque foi com eles que pude transitar melhor nas minhas emoções, me reconhecer e compartilhar. Criei um projeto que foi desenvolvido ao longo de muitos anos na sala de aula que fez muita diferença na minha vida e creio na vida nos meus alunos também.
Trabalhei por dez anos nessa instituição e foi lá que aprendi a olhar cada aluno como um sujeito particular e também a entender melhor como eles aprendem. Excelência no projeto educacional foi nessa prática que aprendi que conhecimento e afetos caminham juntos.
Ao longo desses anos eu fui buscar respostas para minhas inquietações: Qual é, de fato, o papel da escola? O que acontece quando os alunos se reúnem em grupo?Os sentimentos e afetos interferem no processo de aprendizagem?
Qual é a razão de tanta violência nas famílias e nas escolas?Como ensinar os alunos a se relacionarem e a manifestarem seus afetos e emoções? Há espaço na escola para esse tipo de trabalho ou a preocupação está mais voltada para a informação?
Pensar conteúdos relacionais ou ensinar a lidar com afetos ainda é algo que nos assusta, que parece não fazer parte do universo da educação. Mas afinal, como podemos ensinar algo que não fomos ensinados? Acredito que o problema está exatamente aí; é aí que mora o nosso grande desafio. Será que não é chegado o momento de fazer uma reflexão coletiva sobre essa violência que nos acomete a todos. A violência é cenário nas escolas, nas famílias e na sociedade. A agressividade permeia a relação dos alunos entre si, dos alunos com os professores e também com seus pares. A indisciplina gerada pelos grupos é um grito surdo de socorro. Há pouca tolerância para lidar com as diferenças e os afetos. Quanto cada um de nós está implicado nesta questão e também é responsável por esses fatos? É possível pensar soluções e buscar saídas para tal problema? O que cabe a cada um de nós?
Focada nessas inquietações eu fui aprimorando meu projeto com os afetos e os desafetos na sala de aula e fui constatando que eles interferem na aprendizagem e que os alunos necessitam de um espaço para reconhecê-los, discuti-los e compartilhá-los
Embora com muitas leituras e estudos eu ainda não tinha encontrado a resposta que desejava.
Inquieta por natureza decidi buscar novos desafios e experiências, pois sentia que não era mais desafiada e precisava de algo novo, que me tirasse do lugar conhecido, que me desse oportunidade de aprender e crescer. Hora da mudança! Novo ciclo, outro recomeço.
Tarefa difícil. Pois vivi parte da minha vida nessa instituição. Casei, tive filhos, criei grandes vínculos que se mantém até hoje. A decisão da mudança foi um processo dolorido, mas foi nessa época que aprendi que a vida é feita de ciclos com começos e fins. Deixar o conquistado, o conhecido, o seguro para navegar em outros mares, me dava medo ao mesmo tempo em que me impulsionava para novas aprendizagens. Agradecida pelos momentos vividos e por tudo que aprendi nesse cenário. Despedi-me.
Fui trabalhar em outra escola renomada- como professora de 4ª série. Novo desafio.
Quando cheguei o corpo docente estudava em espanhol a teoria do Cesar Coll e vivia o novo e o ousado da educação. Deparei-me com meu não saber e mais uma vez corri atrás de aprender. Excelência por seu currículo fui desafiada a rever minhas práticas pedagógicas, pois as mesmas já não cabiam mais. Já organizavam o planejamento em conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais e a abordagem dos gêneros do discurso pra trabalhar a leitura e a escrita. Cabe ressaltar que a data era 1995, e que a proposta inovadora dessa instituição ainda hoje é um grande desafio para algumas escolas.
A principio sofri muito, pois as minhas práticas pedagógicas já não serviam mais. Gêneros do discurso? O que era isso? Como eu que gostava tanto de ler e escrever não conhecia essa teoria?
Resisti, tive muitas dúvidas, chorei. Pensei ter tomado a decisão errada. “Ah! Essa escola não é sócio-construtivista coisa nenhuma, fui enganada!”
Mas, mais uma vez me deparo com uma grande mestra – Sônia Favaretto- minha coordenadora que vislumbrou em mim a paixão por educar e o desejo de aprender. Mulher exigente, afetiva e questionadora, me ensinou a argumentar, refletir, repensar e registrar a minha prática. Foi ela que deu o título para o meu projeto de sentimentos – “A CIRCULAÇÃO DOS AFETOS E O DESENVOLVIMENTO DA APRENDIZAGEM”- e me inscreveu em um congresso de educação para apresentar e compartilhar a experiência vivida. Com ela ri e chorei muitas vezes.
A Sônia foi a alpinista da minha vida, me jogou montanha abaixo e me mostrou que eu podia voar. E a partir desse momento eu descubro a beleza de voar, de dar asas a criação. Gratidão eterna por essa educadora que me acompanhou por alguns anos e muito me ensinou.
Foram nove anos vividos nesta escola e foi essa instituição que me abriu as portas do conhecimento mostrando-me o movimento constante do aprender. Foquei minha energia para entender melhor a relação em grupo, entre seus pares e com o conhecimento, fui aprimorando o projeto de sentimentos que além de possibilitar o reconhecimento das emoções também dava oportunidade para o educando tomar consciência do caminho percorrido e buscar estratégias para enfrentar as dificuldades encontradas. Estudei com profundidade a estratégia da metacognição e pude integrá-la ao trabalho o que foi dando maior contorno, visibilidade e avanços significativos no processo de aprendizagem dos alunos.
Leitora voraz debrucei-me nos estudos sobre gêneros do discurso e na tarefa de ensinar meus alunos a serem leitores ativos e escritores críticos e reflexivos. Essa paixão me conduziu ao convite para escrever livros didáticos de Língua Portuguesa baseado na teoria dos gêneros.
Novo desafio recheado de muito estudo articulado à prática, muitas descobertas, dúvidas e aprendizado. Duas grandes parceiras fizeram parte desse momento de criação e aprendizado: Maria Cristina Portugal Godinho e Rosana El Kadri. Foram mais de três anos estudando e produzindo. Aprendemos a lidar com as nossas diferenças e a utilizá-las em benefício de algo maior, que foi nosso projeto de escrever. E foi no ano de 2000 que pudemos ver a nossa obra compartilhada e nas mãos de muitos alunos. Nasceu, naquele ano, à coleção “Pensar e Construir Português”.
A trajetória de autoria de uma coleção de didáticos me permitiu entre muitas aprendizagens, duas significativas: a primeira o aprofundamento na teoria dos gêneros do discurso, as intervenções e ações necessárias para criar um espaço de criação de pequenos autores; e a segunda integrar o grupo de produção desse material me deu a oportunidade de aprender a lidar melhor com as diferenças e como elas são enriquecedoras no processo de aprendizagem. Pude integrar esse novo conhecimento a minha prática pedagógica não só no que diz respeito à aquisição da língua materna, mas também a criar um espaço de parceria entre os alunos na tomada de consciência de seus saberes e dúvidas.
Na virada do milênio, novo momento profissional. Fui apresentada por uma amiga, parceira e mestra- Maria Leila Palma Pellegrinelli- ao curso de especialização em psicologia social na coordenação de grupos operativos. Com a luz da psicologia social pichoniana foi possível compreender melhor o papel e a função do educador e também enriquecer minhas intervenções a partir do conhecimento adquirido sobre o espaço psicossocial do grupo e seus integrantes e compreender melhor os organizadores de um grupo: tarefa e vínculo.
Integrei os novos conhecimentos adquiridos a minha prática em sala de aula e formação acadêmica e decidi viver essa teoria tanto no aspecto pessoal quanto no profissional. Ingressei como docente no Instituto Pichon Rivière e desde 2002 tenho me dedicado a formação de educadores através de palestras e cursos em diferentes instituições.
Desde a minha formação em coordenação de grupos há oito anos eu tenho me dedicado a integrar a pedagogia à psicologia com foco na aprendizagem dos alunos. Coordenar diversos grupos me deu a competência para compreender melhor as leis que regem um grupo, como a aprendizagem acontece e como potencializar e preparar os alunos para enfrentar a vida. Fiquei alguns anos como coordenadora e orientadora em escolas particulares com o propósito de acompanhar e alimentar os professores e também desenvolver projetos junto aos alunos com o propósito de entender suas estratégias no ato de aprender, assim como oportunizar a tomada de consciência de suas habilidades e fragilidades.
Entendo a educação como um espaço de preparação para a vida. E essa concepção tem norteado meus estudos e prática pedagógica para oportunizar um espaço em sala de aula onde os conteúdos conceituais possam “conversar” com os sujeitos agentes do processo de aprender.
A criação do ESPAÇO SER E INTEGRAR é a concretização de um velho sonho em parceria com a Leila que me acompanha há anos numa trajetória constante de pensar a educação, estudar, dialogar com diversas teorias para cada vez mais atender melhor aos alunos em seu processo de aprendizagem que é o nosso principal objetivo e foco na educação. Além da amizade e respeito que consolidou a nossa parceira temos em comum a grande paixão por educar!




PRODUÇÃO BIBLIOGRÁFICA


1. Coleção de didáticos de Língua Portuguesa. “Pensar e Construir Português” – editora scipione- 2000.


2. Artigo escrito para a revista Educação em 2001. “As estratégias de leitura e a escrita baseada na concepção dos gêneros do discurso”


3. Revista GRUPPO. Edição Comemorativa de Aniversário, 2006 – Instituto Pichon-Rivière, SP. Título do artigo: “A Circulação dos afetos e o desenvolvimento da aprendizagem”


4. Livro: “Amor, lágrimas e dor” – relato de uma educadora que viveu o melhor e o pior na educação. (no prelo)